Ser pai é ter um filho.
Nem sempre!

Ser pai é muito mais que isto, pode ser também criar um filho que não tenha gerado, pode ser pai duas vezes quando se é avô, o pai na verdade é aquele que cria. Ser pai é cuidar, é se preocupar, é perder tempo, é participar, é fazer-se presente. Nada disto é sofrimento, e sim, alegria de participar daquela vida que se desenvolve.
Ser pai é motivo de imensas alegrias, mas também de grandes preocupações, assim foi, ou ainda é comigo... Que maravilhoso foi ser responsável por colaborar com o preparo de uma nova vida, acompanhar a gestação, o nascimento, presenciar a dependência total daquele serzinho, da necessidade que tinha de ser cuidado, e, que alegria vê-lo crescer...
Mas, nesta experiência nova de ser pai, sem querer me via a perguntar cá com meus botões: será que vou conseguir assumir toda essa responsabilidade, não vou deixar nada faltar, vou saber educar, vou dar bom exemplo, e tudo mais que dizem ser obrigação do pai?
E como se aprende a ser pai? Eu não tive aulas sobre isto na escola e nem tive longas conversas com amigos ou pessoas experientes, sequer li livros ou mesmo pequenos textos sobre ser pai. Como então se aprende a ser pai?
Engraçado é que a gente espera as respostas nas questões da escola da vida, igualzinho a professora ensinava lá na escola, pelo menos no meu tempo era assim: primeiro a professora ensinava, depois ela elaborava perguntas, e a gente ia procurando as respostas no que a professora havia ensinado, ai fazia os exercícios e por fim a gente aprendia. Só que nas questões da vida não é assim, tem questão, por exemplo, que é respondida antes de ser perguntada e essa que eu acabei de comentar é uma delas: - Como ser pai?
Pois é ... isso mesmo! Eu aprendia a ser pai quando ainda nem estava preocupado com isso, só queria era ser filho. No colo do meu pai eu aprendia um monte de coisas, por exemplo: o quanto era bom estar sendo cuidado, estar protegido, pertencer a uma família. Quando ficava esperando meu pai chegar do serviço, ele muitas vezes cansado e até chateado, mas, tinha que dar aquele abraço e a atenção que eu e meus irmãos disputávamos. Eu nem percebia, mas com certeza ali eu aprendia, qual deve ser a luta do pai para trazer o sustento para sua família. Aos domingos, a gente esperava ansioso pelo retorno do meu pai que voltava da missa e das reuniões da Congregação Mariana e quando pisava dentro de casa, a primeira coisa que a gente sabia que ouviria era: “A paz de Jesus, Salve Maria” - e nos dava a medalha de Nossa Senhora para dar um beijinho respeitoso, isto no alto de meus três, quatro anos. Assim eu ia aprendendo que eu tinha uma religião e que era bom ter fé. Fui crescendo e a cada etapa de meu desenvolvimento como pessoa, ia aprendendo uma lição de como ser pai. Poderia lembrar de muitas outras lições que só percebi muitos anos depois ter aprendido, mas seria impossível enumerar todo exemplo de vida que fui vivenciando, daquele que para mim era o espelho, e eu pensava, aliás como quase todo filho: Quando crescer quero ser igual meu pai.
Assim fui aprendendo a ser pai, sem ter perguntado, sem nem perceber, e hoje, passado o tempo, com uma filha adolescente e outro jovem, não sei se sou um pai tão bom quanto aquele que me ensinou. Sei que as angústias ainda me assombram, as conversas cá com meus botões ainda teimam em continuar, por exemplo: Será que devo dar a liberdade que meus filhos, mesmo sem falar me pedem? Para que eles se desenvolvam, “os deixar voar’’ ou devo me impor, presente, próximo, não forçando a barra, mas com a resiliência que os faça perceber que quero participar? E neste momento em que fomos obrigados a sair do normal? Como saber o que meus filhos precisam? Seria de um tempo? Ou seria de um pai? E eu? Estou precisando me sentir afagado ou precisando socorrê-los? Confesso que não sei as respostas, mas com muita fé em Deus vou tentando construí-las.
Mesmo tendo um grande professor na matéria de ser pai, ainda sei que sigo aprendendo, espero refletir a imagem que recebi, que possa estar a ensinar meus filhos a serem bons pais e sei também que a missão não é fácil, por isto, me resta ainda pedir a ajuda daquele espelho que cada pai neste mundo deve refletir a imagem, aquele que não foi pai por ter participado do gerar a vida, mas foi muito mais que isto, cuidou, educou, ensinou e também teve dúvidas, precisou ter fé, recebeu conselhos e os seguiu, por isso cada pai deve sempre dizer: “Valei-me São José, ensinai-me a ser um bom pai, como o Senhor o foi”.

Autor: João Gualberto Leite.