Todo ano, no dia 2 de novembro, celebramos o Dia de Finados. Nesse dia, um dos lugares mais visitados é o cemitério, onde vão todos aqueles que têm alguém sepultado. Mas o que vão fazer lá? Ver seus entes queridos? Será que o coração se aproxima de uma sepultura para encontrar a morte? Não, as pessoas vão ali em busca da vida. Ali, reacendem saudades e lembranças daqueles que partiram antes, que ali "jazem". O que se passa no coração dos visitantes de cemitérios nesse dia, cada um sabe. Certamente, uma nostalgia sobe à alma e a deixa um pouco confusa e reclusa, porque alguém está ali enterrado, mas algo nos diz que ali "não jaz". Nossa crença projeta a vida para além do túmulo. Os restos mortais que ali repousam são um testemunho de que a vida habitou aquele corpo, mas ela não está mais lá. Onde estará então? Para aqueles que creem, a vida se encontra em outra dimensão que a fé consegue alcançar, na esperança de um reencontro um dia. "Creio na vida eterna..."

Ali, diante das sepulturas, acendem-se velas e depositam-se flores. Mas o que representam esses gestos? A vela acesa é símbolo de quê? E as flores, o que querem sinalizar? A vela representa a luz que aponta para a vida desejada para aqueles que já se foram, uma vida plena, que Jesus mesmo afirmou ser a luz do mundo. "Eu sou a luz do mundo, e quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida." As flores simbolizam o amor nutrido por aqueles que estão ali enterrados. É uma forma humana de expressar que algo permanece e é eterno. Velas e flores juntas traduzem a saudade que aperta o coração, o desejo de felicidade junto a Deus, e a afirmação de que aqueles que foram deixaram uma marca eterna.

O cemitério é um lugar de mistério. De um lado, vemos as sepulturas daqueles que já partiram, que não estão mais entre os vivos que andam pelo cemitério. Mas há algo em todos nós, até mesmo naqueles que não têm fé, que nos faz esperar que a vida não se encerra ali. O cemitério não é o lugar onde os mortos residem, pois não faria sentido visitá-los e prestar homenagens com velas e flores. No fundo de nossas almas, há a esperança de que a vida continua. No cemitério, parece haver um contraste, pois vemos lápides com inscrições que marcam nascimento e morte. Parece contraditório. As pessoas vão ao cemitério não para encontrar a morte, mas com a esperança de encontrar a vida daqueles que já partiram. De certa forma, eles são reencontrados nas saudades que sentimos, na tristeza por não tê-los mais conosco, por não podermos tocá-los ou conversar com eles. No cemitério, o silêncio fala aos entes queridos, e é por meio das preces que nos comunicamos com eles. Tudo isso acontece em um ambiente de profunda reflexão que toca as memórias dos sentimentos compartilhados com aqueles que já se foram. O paradoxo é que, embora o cemitério seja um lugar onde a morte está presente, vamos lá com a esperança de encontrar a vida daqueles que já se foram. Não fosse a fé e a esperança na vida eterna, visitar o cemitério no Dia de Finados seria uma experiência de masoquismo e tortura psicológica.

O Evangelho nos conta a história de Maria Madalena, que, no dia seguinte à morte de Jesus, foi ao sepulcro procurar o corpo d'Ele. Ela não levou velas nem flores, mas perfumes, para ungir o corpo com seu amor e gratidão por tê-lo salvo. Quando chegou lá, não encontrou o corpo de Jesus, e sua primeira reação foi pensar que alguém havia roubado o cadáver. No entanto, foi surpreendida por um anjo que lhe disse para "não procurar entre os mortos Aquele que está vivo". Graças a esse mistério revelado, as sepulturas não são mais símbolos de morte, mas locais de reencontro com a vida em outra dimensão, conforme a Ressurreição de Cristo nos ensina. Podemos, então, pensar que, ao visitar o cemitério no Dia de Finados, estamos professando nossa fé na ressurreição dos mortos, como afirmamos no Credo.

O cemitério que visitamos é um lugar que abarca tanto a morte quanto a vida, é um mistério que todos enfrentamos até chegar a nossa própria vez de compreender o que professamos. Não mais sentiremos saudades desta vida, porque possuiremos uma vida muito mais plena, onde a morte não terá mais poder. No Dia de Finados, façamos nossas preces pelos falecidos, acendamos nossas velas e coloquemos nossas flores, tudo com a esperança de reencontrá-los em um lugar onde não há cemitérios, nem necessidade de velas e flores, pois viveremos eternamente junto daquele que venceu a morte e prometeu vida eterna àqueles que "morrem e ressuscitam com Ele". Que nossa visita ao cemitério no Dia de Finados não seja apenas uma experiência de saudade, mas também uma manifestação de nossa profissão de fé, alimentando nossa esperança. "Creio na ressurreição dos mortos e creio na vida eterna..."

Diacono João Gualberto SDS

  Autor:

P. Deolino Pedro Baldissera, sds